Pesquisa aponta que redução foi de 40% nas cidades chinesas. Em cidades europeias como Madri, Barcelona, Roma e Paris, a queda foi entre 47% e 54%.
Uma pesquisa feita pela União Geofísica Americana (AGU) mostra que a poluição do ar atmosférico no mundo diminuiu drasticamente durante o período de isolamento social em razão da pandemia do novo Coronavírus
De acordo com o estudo, foi observada uma redução de dióxido de nitrogênio (NO 2), que é um gás poluente tóxico, na China, Coréia do Sul, Europa Ocidental e Estados Unidos.
De janeiro a abril deste ano, a redução foi de 40% nas cidades chinesas e de 20 a 38% na Europa Ocidental e nos Estados Unidos, em relação ao mesmo período do ano passado.
Segundo a AGU, a queda no índice é resultado das medidas preventivas à Covid-19 aplicadas nestas regiões, como a suspensão das atividades econômicas e sociais.
Índice de poluição atmosférica
O levantamento feito pela AGU é baseado nos dados coletados por um satélite de observação da terra, o Sentinel-5, que foi desenvolvido pela Agência Espacial Europeia (ESA) e faz o monitoramento da poluição atmosférica.
De acordo com a ESA, a frota europeia de satélites observou essas rápidas mudanças de um ano para o outro. Gráficos e mapas do estudo feito pela União Geofísica Americana mostram essas alterações.
Um dos mapas aponta a mudança da poluição do ar causada pelo dióxido de nitrogênio em três países europeus: Espanha (a, d), França (b, e) e Alemanha (c, f) durante o ‘lockdown’ em março e abril de 2020 e estes países no mesmo período em 2019.
Segundo Josef Aschbacher, diretor de programas de observação da Terra da ESA, em entrevista feita pela agência, as imagens de concentração de NO² foram observadas.
“O NO² é um dos gases criados diretamente por pessoas, escolas, trânsito e indústrias e essas são, de fato, as principais fontes poluidoras. O interessante do dióxido de nitrogênio é que ele tem uma vida curta, de apenas algumas horas e, portanto, pode ser rastreado até a fonte de poluição ”, afirma.
O diretor explica que medições foram feitas no início de abril e elas mostraram que em várias cidades da Europa que foram fortemente afetadas pelo ‘lockdown’, os índices de poluição atmosférica estão diminuindo em 50%, em média.
Nas principais cidades do mundo como Madri, Barcelona, Roma e Paris, foi vista uma redução entre 47% e 54%, de um período para o outro.
Na região da Índia, os picos do Himalaia podem ser vistos novamente pela primeira vez em uma geração.
Já em outras regiões, como na Europa Oriental, onde as atividades industriais continuam operando, o satélite mostra que os níveis de poluição pelo NO2 no ar continuam o mesmo.
Segundo o levantamento, apesar de também ser afetado pela pandemia, os dados não mostram evidências de redução de emissão de poluente no Irã. Isso pode significar que a taxa de isolamento social e medidas preventivas à doença são bem menores no país.
Consequências da baixa qualidade do ar
A poluição do ar por queima de combustíveis fósseis em fábricas e veículos pode acarretar problemas respiratórios e agravar doenças como bronquite ou asma.
De acordo com a ESA, estima-se que o problema causa mais de 500 mil mortes prematuras na Europa todos os anos.
Na China, a população sofre com os poluentes. Uma matéria da BBC mostra que, em 2016, o governo chinês fechou escolas, cancelou voos e suspendeu atividades industriais após muitas cidades entrarem em alerta vermelho por causa índice de qualidade do ar.
Alerta vermelho
O alerta vermelho é a categoria mais grave em uma escala de quatro níveis de um sistema criado pelo governo durante o combate à poluição.
Em 2015, Pequim e outras cidades chinesas já tinham entrado em alerta vermelho após uma espessa névoa de fumaça ficar na região.
Por isso, a situação é uma preocupação recorrente.
No entanto, segundo a ESA, a redução drástica dos gases poluentes não é sustentável no momento, já que aparece em um cenário emergencial, durante uma pandemia.
Por outro lado, o quadro mostra um panorama de como o ambiente pode melhorar.
“Eu acho importante que utilizemos esse momento, vendo o céu e o ar limpo para percebermos o quanto é importante preservarmos nossa natureza e, portanto, fazer os investimentos necessários de uma forma sustentável e que esteja em harmonia com o nosso planeta”, conclui Josef Aschbacher.
Fontes:
- Pesquisa da AGU. Impact of coronavirus outbreak on NO2 pollution assessed using TROPOMI and OMI observations:
https://agupubs.onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1029/2020GL087978 - ‘Apocalipse’ na China: poluição coloca meio bilhão de pessoas em alerta vermelho:
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-38393259 - Seen from space: COVID-19 and the environment em “https://www.esa.int/”: https://youtu.be/Ofb2pNQc424