O futuro sustentável dos investimentos e das empresas

O futuro sustentável dos investimentos e das empresas

Estamos passando por uma importante crise civilizatória, onde nosso entendimento sobre segurança e estabilidade foi colocado em cheque novamente. Salvo alguns poucos humanos, a esmagadora maioria busca um ambiente de segurança e estabilidade para viver. Isso acontece desde os tempos primitivos das cavernas. No entanto, apesar de nossa busca pela segurança, a história nos mostra que o que realmente é constante é a mudança.

A pandemia do novo coronavírus “abalou geral” a economia, a política, as relações sociais, o meio ambiente e principalmente os valores que orientam todos os demais. A atual crise nos impõe a reflexão e também a aceitação de que estamos interligados em uma grande rede e que o isolamento dos tempos das cavernas, onde a sobrevivência do núcleo familiar era o objetivo, é diferente do isolamento que vivemos hoje e aquele modelo não se sustenta, pois dependemos dessa importante teia social, econômica e ambiental para sobreviver.

“A atual crise nos impõe a reflexão e também a aceitação de que estamos interligados em uma grande rede e que o isolamento dos tempos das cavernas, onde a sobrevivência do núcleo familiar era o objetivo, é diferente do isolamento que vivemos hoje” (Andreia Amorim).

A pandemia nos provoca repensar e melhorar a forma como realizamos nossas transações e considerar ainda mais as diferenças entre ricos e pobres, entre povos, entre centro e periferia, e entre relações sociais, interesses econômicos e recursos do planeta.

É muito importante ter a plena consciência de que somos iguais, mas também somos diferentes. Não estamos no mesmo barco, mas no mesmo mar, com condições e recursos de sobrevivência bem diferentes. No entanto, se quisermos prosperar enquanto raça humana, todos precisam cooperar para passar por essa tormenta.

Nesse contexto, sairão na frente as empresas que incorporarem os desafios econômicos, sociais e ambientais, como direcionadores de seus valores e principalmente de suas ações. Serão significativas aquelas que aproveitarem esse momento, para gerar valor compartilhado para todas as partes interessadas. Estamos falando aqui de fazer investimentos de impacto social e ambiental positivos.

Esqueça as doações de materiais, de impostos ou voluntariado sob uma perspectiva unicamente assistencialista. Estamos falando na incorporação genuína de indicadores sociais e ambientais, além dos já consolidados indicadores de governança. Estamos falando em tomada de decisão de investimento, baseada em ASG ou ESG (sigla em inglês que trata de ambiental, social e governança). Não estamos falando em resultados, mas em transformação.

Empresas sustentáveis performam mais

Seguimos fazendo escolhas sobre como nos relacionamos com a economia, os mercados e como investimos. Os analistas sociais diriam que essa “tal” economia e os mercados são representações sociais sobre a forma como realizamos trocas, para melhor sobrevivência da espécie humana.

O importante é saber que não estamos iniciando do zero e que muitas iniciativas podem nos guiar para essa mudança. Porque na verdade ela já está acontecendo. A crise atual serviu para abrir os olhos de muitas organizações, para o desenvolvimento sustentável e necessário.

Desde 2005, a bolsa de valores do Brasil – Ibovespa mantém o Índice de Sustentabilidade Empresarial/ISE B3 com uma carteira de empresas que sempre apresentaram melhor performance que as demais empresas listadas no Ibovespa.  A atual carteira do índice reúne 46 ações de 39 companhias. Além disso, representa 15 setores e soma R$ 1,8 trilhão em valor de mercado. Esse montante equivale a 38% do total do valor de mercado das companhias com ações negociadas na B3, com base no fechamento de 25/11/2020. Desde a sua criação, o ISE B3 apresentou rentabilidade de +294,73% contra +245,06% do Ibovespa (base de fechamento em 25/11/2020). No mesmo período, o ISE B3 teve ainda menor volatilidade: 25,62% em relação a 28,10% do Ibovespa.

Falando sobre investimentos baseados em ASG ou ESG (como o mercado financeiro e de capitais vem chamando o investimento em empresas sustentáveis), cresce em todo mundo, com especial desenvolvimento na Europa, organizações que promovem o investimento sustentável como é o caso do The Global Sustainable Investment Alliance, uma aliança de organizações que promovem o investimento sustentável, com membros em todo o mundo.

De acordo com Zeca Doherty Superintendente-geral da ANBIMA (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), que lançou no início de 2020 um Guia para a Incorporação dos aspectos ASG nas análises de investimento, o movimento de ASG no Brasil, quando comparado ao cenário internacional, ainda é tímido e com pouco engajamento, tanto dos gestores como dos investidores, mas que vem crescendo e pode ser impulsionado pela atual crise mundial.

“O movimento de ASG no Brasil, quando comparado ao cenário internacional, ainda é tímido e com pouco engajamento, tanto dos gestores como dos investidores, mas que vem crescendo e pode ser impulsionado pela atual crise mundial” (Zeca Doherty).

 Episódios recentes reforçam o crescente posicionamento empresarial para garantir um futuro mais equilibrado e sustentável. Podemos citar como um grande posicionamento, o feito nas últimas três “cartas aos CEOs” de Lary Fink, fundador, Chairman e CEO da BlackRock gestora de US 9 trilhões em ativos nos principais mercados globais que apresenta um chamado à ação para as empresas liderarem, alinhando Propósito, Lucro e posicionamento em relação às mudanças climáticas.

Em 2019, empresas como Amazon, J.P.Morgan, Apple, Pepsi e Walmart e mais 186 CEOs de empresas americanas, divulgaram um manifesto indicando que a era da “supremacia dos acionistas” (e, na prática, do lucro acima de tudo) está chegando ao fim, dando lugar a um novo modelo de se fazer negócios.

Nacionalmente, passamos por momentos inusitados para a gestão pública, bem como para o impulsionamento das empresas rumo a uma gestão mais sustentável em 2020. O primeiro grande movimento foi a carta que um grupo de 32 investidores internacionais enviou para as embaixadas brasileiras em oito países, manifestando sua preocupação com o aumento do desmatamento no Brasil. Ao todo, esses investidores gerem US$ 4,5 trilhões (cerca de R$ 20 trilhões) em ativos.

Na sequência, outro grupo, de 40 grandes empresas e entidades, enviou uma carta, ao vice-presidente Hamilton Mourão e presidente do Conselho Nacional da Amazônia Legal, aos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia, do Senado, Davi Alcolumbre, ao procurador-geral da República Augusto Aras, e ao presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, defendendo uma agenda para o desenvolvimento sustentável e combate “inflexível e abrangente” ao desmatamento ilegal na Amazônia.

Algo muito importante é que não sejamos ingênuos, achando que essas grandes empresas internacionais e nacionais, muitas delas com atividade de alto impacto negativo em social e ambiental, passaram a ser “boazinhas da noite para o dia”. Mas olhemos para esse posicionamento, como uma importante alavanca para a mudança de suas próprias práticas e consequente benefício para todas as partes.

Cada vez mais pessoas e organizações passam a acreditar que as empresas devem ser parte da solução das questões que afligem a humanidade. Não podemos voltar a um antigo normal, porque já não somos os mesmos e consequentemente as organizações não serão as mesmas. Precisamos aproveitar a oportunidade de fazer melhor e criar uma agenda positiva para assumir e incorporar as questões relacionadas às dimensões sociais e ambientais fazendo tão bem quanto a governança nas organizações.

 

* Andreia Amorim é estrategista para negócios sustentáveis com mais de 19 anos de experiências incríveis em treinamentos, consultorias e mentorias sobre sustentabilidade na prática dos negócios.

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