Práticas de ESG esbarram em gargalos no Brasil, aponta especialista

O ESG

Falta de profissionais qualificados e custos elevados dificultam implantação de projetos com o conceito de práticas ESG nas empresas

O ESG tem se tornado interessante para as grandes empresas como uma forma de atrair uma parte dos consumidores que se identifica com determinadas causas.

Muitas corporações são cobradas pelo público a se posicionarem sobre temas diversos.

Por isso, já não é mais único fator relevante que uma determinada companhia produza um grande produto ou ofereça um ótimo serviço, ela precisa estar alinhada ao que a sociedade quer e acredita.

Gargalos para implementação

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Foto: Reprodução/Pexels

De acordo com o advogado especializado em Governança Corporativa, Direito Societário, Contratual e Econômico, Emanuel Pessoa, essas corporações esbarram, no entanto, em dois grandes gargalos para a melhor implementação de projetos voltados ao ESG, sigla para “Meio Ambiente, Social e Governança”.

Um deles é o número reduzido de profissionais efetivamente qualificados para trabalhar com a temática.

O outro tem relação com o custo de ofertar produtos e serviços alinhados com o ESG, ainda alto e para um mercado reduzido.

Isso é devido ao poder aquisitivo da população que, em geral, não tem como bancar esses valores. 

Implementação Racional

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“Muitas vezes, empresas interessadas em promover mudanças sociais ou de consumo podem se ver em situação econômica desvantajosa, tornando-se incapazes de agir como desejavam”, esclarece Emanuel.

Na opinião do especialista, o ESG precisa ser aplicado de forma racional pelas empresas, apesar de o tema ter se tornado central, tanto para os negócios em geral quanto para os consumidores.

Uma pesquisa feita recentemente pela Deloitte em parceria com o Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (IBRI) mostra que 87% das companhias listadas na B3 afirmam ter aumentado o envolvimento e conhecimento da área de relações com investidores dos temas ESG nos últimos 12 meses.

Do lado da população, 94% dos brasileiros esperam uma iniciativa das empresas para fazer algo sobre o assunto, segundo outro estudo da consultoria Walk The Talk by La Maison.

O ESG

reuniao
Foto: Reprodução/Pexels

Atualmente, dois tipos de pautas chamam bastante a atenção dos consumidores, avalia o advogado. A preservação do meio ambiente e as questões sociais, as quais compõem, respectivamente, o “E” e o “S” de ESG. Já o “G”, de governança, é, no Brasil, um tema mais restrito a investidores.

“Com um mercado de capitais pequeno, um número reduzido de empresas na bolsa e uma grande variedade de produtos financeiros com retornos elevados, a pouca importância que as pessoas em geral dão ao G não chega a ser surpreendente”.

Emanuel Pessoa

Emanuel destaca que um exemplo da importância do “E” para a conquista de mercado vem da Korin. A empresa se posicionou como produtora de frangos orgânicos, criados da forma mais natural possível.

Na mesma linha, cada vez mais ovinocultores oferecem ovos de galinhas criadas sem gaiola e produtores rurais em geral ofertam produtos anunciando baixo uso ou mesmo ausência de agrotóxicos, reforçando uma percepção de compromisso com o meio ambiente.

Ainda de acordo com Pessoa, mesmo esses produtos sendo muito mais caros, há muitos interessados neles.

Sustentabilidade Corporativa

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O advogado alerta, entretanto, que a pauta de sustentabilidade corporativa pode encontrar seu teto quando ela se converte em uma tentativa de impor padrões alimentares e de consumo específico sem levar em consideração o público a que se dirige.

Para ele, a diferença entre impor e influenciar é sutil, mas notória para quem está na outra ponta.

O “S” pode contribuir muito para a reputação de uma empresa e também para resgatar uma série de consumidores que, anteriormente, podiam se sentir alienados.

O advogado relembra o caso do Magazine Luiza, que obteve uma fortíssima propaganda positiva ao criar um programa de trainee para negros, aplicando a chamada discriminação positiva.

Na avaliação dele, o enveredamento em questões sociais por parte de muitas empresas pode ocorrer por motivos ideológicos.

“Contudo, há uma diferença clara entre atuar para reduzir injustiças sociais e para promover a possibilidade de que grupos que se sentem marginalizados possam ser efetivamente incluídos, o que certamente é um desejo da maioria absoluta da população e será bem aceito pelos consumidores, e tentar impor ideias específicas como sendo ideias gerais, o que pode limitar o efeito mercadológico desse tipo de imposição”.

Emanuel Pessoa

Por: Emanuel Pessoa

Advogado especializado em Governança Corporativo, Direito Societário, Contratual e Econômico, Emanuel Pessoa é mestre em Direito pela Harvard Law School, Doutor em Direito Econômico pela Universidade de São Paulo, Certificado em Negócios de Inovação pela Stanford Graduate School of Business, além de Bacharel e Mestre em Direito pela Universidade Federal do Ceará.

** ** Este artigo foi produzido por um autor independente e o texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal Sustentabilidade.

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