Soja produzida no MATOPIBA tem potencial de redução nas emissões de carbono

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Pesquisa inédita da Solidaridad faz um retrato de mais de 155 mil hectares da soja do MATOPIBA e mostra ser possível adequar práticas agrícolas, ter rentabilidade e preservar o Cerrado

Para mostrar a relação entre a adequação das práticas agrícolas e o sequestro de carbono no solo, a Fundação Solidaridad lança estudo inédito que traça um retrato do balanço de carbono na produção de soja do MATOPIBA, região entre os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, no bioma Cerrado.

A agropecuária brasileira oferece oportunidades de redução nas emissões de carbono por meio do aperfeiçoamento de suas práticas. Dentro do setor, a soja tem papel estratégico para a balança comercial e a imagem do país na economia mundial.

O estudo

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Foto: Reprodução/Pexels

O estudo “Balanço de carbono na produção de soja do MATOPIBA” tem apoio do Land Innovation Fund (LIF), da Agência Norueguesa de Cooperação para o Desenvolvimento (NORAD), por meio da Iniciativa Internacional Norueguesa de Clima e Florestas (NICFI), e parceria da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (AIBA).

A pesquisa foi conduzida com a colaboração do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (IMAFLORA).

Segundo a Coordenadora de Projetos da Fundação Solidaridad, Juliana Monti, foi analisado o estoque de carbono nas áreas com vegetação nativa e os cenários melhorados em função das práticas de manejo adotadas e mudanças de uso da terra nas áreas cultivadas.

“Os dados revelam informações importantes e oportunidades para produtores e empresas do setor, comprovando que é possível manter a rentabilidade com a implementação de práticas agrícolas de baixo carbono”, afirma.

Sequestro de Carbono

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Foto: Reprodução/Pexels

Foram analisadas 50 fazendas da região do MATOPIBA em 22 municípios, com presença de diferentes tipos de vegetação do Cerrado. Juntas, totalizam mais de 155 mil hectares de soja, o equivalente a 155 mil campos de futebol.

A metodologia para o cálculo das estimativas de emissões e sequestro de carbono da produção de soja na região foi dividida em quatro categorias principais: emissões da produção agrícola, emissões e sequestro pelo uso do solo, estoques de carbono contido nas áreas com vegetação nativa e emissões líquidas, também chamadas de balanço de carbono.

A estimativa de emissões de carbono resultou em 150.575,90 tCO₂e/ano na safra 2019/2020. Desse total, cerca de metade foi originada pelo uso de corretivos agrícolas, seja pela calagem ou aplicação de gesso. A segunda maior fonte de emissões foi o uso de fertilizantes nitrogenados, que contribuiu com 21,5% das emissões totais, sendo 60,9% originadas pela aplicação de ureia.

“O uso desses insumos está mais associado às culturas de segunda safra, principalmente o milho”, destaca Juliana Monti. As demais fontes das emissões nas fazendas foram o uso de combustíveis em operações agrícolas (17%), decomposição de resíduos agrícolas (5,5%) e consumo de energia elétrica (0,5%).

Balanço das emissões

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Foto: Reprodução/Pexels

Da área analisada, o total de 38.653 ha foi destinado à segunda safra. A produtividade média foi de 58 sacas/ha/ano (3,5 ton/ha/ano), enquanto a da segunda safra foi de 98 sacas/ha/ano (5,9 ton/ha/ano).

Considerando o balanço de carbono, chega-se a -92.085,73 tCO₂e/ano, uma vez que o sequestro de -242.660,63 tCO₂e/ano, originado principalmente nas fazendas que adotam o Sistema de Plantio Direto (SPD), compensa 161,2% das emissões.

Os valores médios obtidos das emissões de carbono por área foram de 0,97 tCO₂e/ha/ano e de 0,02 tCO₂e/saca/ano de soja produzida na safra 2019/2020.

Em relação ao balanço de carbono por área, o resultado médio foi de -0,59 tCO₂e/ha/ano e de -0,01 tCO₂e/saca/ano de soja produzida, apresentando um sequestro médio por área de -1,56 tCO₂e/ha/ano.

“O que vimos é que existe um potencial para melhorar as emissões, e que essas práticas disponíveis, como a rotação de culturas e o SPD, podem ser adaptadas para a realidade de cada região, otimizando o uso de recursos naturais e financeiros”, explica Juliana.

As fazendas avaliadas estão localizadas no bioma Cerrado e, para a mensuração do estoque de carbono da vegetação nativa, foram contabilizadas as áreas de Reserva Legal (RL) e aquelas em que havia Áreas de Preservação Permanente (APPs) e áreas de excedente florestal.

A estimativa dos estoques de carbono com vegetação nativa nas fazendas avaliadas foi de 3.059.577 toneladas.

Oportunidades no manejo

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Foto: Reprodução/Pexels

A equipe responsável pelo projeto mensurou cenários de balanço de carbono com base em mudanças de uso e manejo de solo e que implicam em novos valores de sequestro e emissão de carbono, de acordo com os aspectos de cada um.

Foram definidos quatro cenários: Cerrado para Sistema Plantio Convencional (SPC), Cerrado para SPD, Pastagem degradada para SPD e SPC para SPD.

Cada um foi aplicado nas fazendas, possibilitando entender as mudanças em cada uma e comparar com os valores obtidos na linha de base.

Para os quatro estados do MATOPIBA, a tendência observada foi a mesma: somente o último cenário, em que o SPD passa a ser implantado na propriedade, apresenta um sequestro maior do que a linha de base.

A mudança do SPC para SPD ampliado para toda a região indica um potencial de sequestro de aproximadamente -357,6 mil tCO₂e/ano, o equivalente a um abatimento de 0,06% das emissões nacionais do setor agropecuário no ano de 2020, o qual foi de 567,7 milhões tCO₂e/ano.

Redução dos impactos

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Foto: Reprodução/Pexels

Segundo a Especialista em Carbono da Fundação Solidaridad, Camila Santos, análises como essas indicam caminhos para produtores e produtoras rurais reduzirem os impactos ambientais gerados por suas atividades, juntamente com o fornecimento de informações para que as decisões tomadas sejam guiadas pelas prioridades locais e globais.

“Entretanto, é importante que mais pesquisas relacionadas ao tema sejam feitas nas regiões produtoras, para que seja possível trazer os resultados cada vez mais próximos à realidade de cada região.

Os solos do Cerrado são diferentes, por exemplo, do solo dos Pampas, e é importante identificar essas diferenças e traduzi-las para o modelo”, salienta ela.

A metodologia apresentada no estudo e as análises de balanço de carbono na Bahia integrarão a calculadora de balanço de carbono do Sistema de Inteligência e Monitoramento Ambiental (SIMA), plataforma desenvolvida pelo SENAI CIMATEC, com apoio do Land Innovation Fund e sob gerenciamento da AIBA.

Com 36,9 milhões de hectares cultivados de soja, o Brasil é o maior produtor mundial do grão com 128,8 mi/ton. Na safra 2019/2020, por exemplo, o país foi responsável por 38% da produção mundial.

Acesse aqui a íntegra do estudo.

Por: Fundação Solidaridad e Rural Press

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