Saiba tudo sobre a Caatinga, bioma único, onde seu patrimônio biológico em todo o planeta, existe apenas no Brasil.
Em todo o território nacional, a Caatinga é considerada como uma das maiores riquezas naturais, pois seu patrimônio biológico não é encontrado em nenhuma região no mundo, ou seja, ela é única e 100% brasileira, o que representa ser o símbolo do orgulho de ser brasileiro.
Para se ter uma ideia do contexto internacional que o bioma apresenta, ela está relacionada a duas das 3 principais convenções de meio ambiente, no âmbito das nações unidas, quais sejam a Convenção de Diversidade Biológica – CDB, a Convenção de Combate à Desertificação – CCD e a Convenção de Mudanças Climáticas.
O bioma apresenta uma grande biodiversidade, apesar de ser menos conhecido no país, porque se realizam poucas coletas neste tipo de bioma, porém é o principal ecossistema da região nordeste e conhecido mundialmente por se tratar de um bioma semiárido mais biodiverso do mundo.
Diante da importância que possui para o Brasil e para o mundo, este artigo tem como objetivo principal não só valorizar o bem mais precioso que temos, mas nos orgulhar do quão maravilhoso e diferenciado é o nosso país, através de sua riqueza natural e única, 100% brasileira, a tão importante Caatinga.
O que é
De origem tupi-guarani, que significa mata branca, a Caatinga é um tipo de vegetação que predomina o Nordeste do Brasil e está inserido no contexto do clima semiárido.
Os primeiros habitantes da região nordeste, no caso os índios, usavam este termo para denominar a maioria das plantas que na estação da seca perdiam as folhas, prevalecendo na paisagem a aparência clara e esbranquiçada dos troncos das árvores.
No inverno, as folhas verdes e as flores voltam a brotar, devido a ocorrência da chuva.
Localização
Localizada na Região Nordeste do Brasil, a Caatinga compreender os estados da Paraíba, Rio Grande do Norte, Piauí, Maranhão, Alagoas, Pernambuco, Sergipe, Bahia, Ceará e em algumas faixas da Região Sudeste que ficam ao norte do estado de Minas Gerais.
De todos os estados em que ocorre a Caatinga, o Ceará é o que possui maior parte do seu território formado por esse bioma.
Inclusive, a Caatinga faz limite com outros três biomas do país, a Amazônia, a Mata Atlântica e o Cerrado.
Características
A Caatinga apresenta diversas particularidades, principalmente em relação climática das plantas e dos animais, sendo que muitas vezes é afetada por secas extremas e períodos de estiagem, característicos do seu clima
É o único bioma, cujos limites encontram-se totalmente dentro do território brasileiro, ocupando, aproximadamente, uma área de 734.478 km², que corresponde a cerca de 70% da Região Nordeste e 11% do território nacional.
Sua pluviosidade é de cerca de 500 mm a 1000 mm anuais, concentrada em uma estação com duração de três a cinco meses.
Clima
Com alternância de períodos de chuva e períodos de estiagem, o clima da Caatinga é semiárido.
Considerado o clima mais quente do planeta, é muito comum que o período seco apresente temperaturas bem altas, podendo chegar a 60ºC e o sol forte chega a provocar a evaporação das águas, rios e lagos.
Vegetação
Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), a Caatinga apresenta cerca de 1.981 espécie de plantas, ao qual pertence a um tipo de vegetação que desenvolveu de forma natural mecanismos de sobrevivência em razão da pouca água disponível.
A caatinga não é homogênea, portanto, o bioma possui uma variedade de vegetações classificadas como fitofisionomias (fito = planta e fisionomia = aparência, significa o aspecto visual da vegetação), por isso que muitos costumam usar o termo no plural, caatingas.
Com isso, a caatinga apresenta os seguintes tipos de vegetações:
- Caatinga Arbórea: é a verdadeira caatinga dos índios tupi, com florestas altas e árvores que chegam a 20 metros de altura, que na estação chuvosa formam uma copa contínua e uma mata sombreada em seu interior;
- Caatinga Arbustiva: ocorre em áreas mais baixas e plantas, com árvores de menor porte de até 8 metros de altura, associadas a cactáceas como o Xique-Xique, o Faxeiro e bromélias como a Macambira e o Croatá;
- Mata Seca: floresta que ocorre nas encostas e topos das serras e chapadas. As árvores dessa mata perdem as folhas em menor proporção durante a seca;
- Carrasco: vegetação que só ocorre a oeste da Chapada da Ibiapaba e ao sul da Chapada do Araripe, com arbustos de caules finos, tortuosos e emaranhados, difíceis de penetrar.
Fauna
A biodiversidade deste bioma é muito rica, abrigando diferentes espécies de animais e estudos apontam a existência de aproximadamente 327 espécies endêmicas na caatinga.
Assim como as plantas, estes animais sofreram adaptações para superar a estiagem, adaptando-se para consumir alimentos disponíveis na estação, realizando migrações sazonais para locais mais úmidos como as serras, aceleram o ciclo reprodutivo durante as chuvas ou entram em estado de dormência durante a seca.
Neste bioma, destacam-se os repteis, sendo que de 116 espécies, 10 são de anfisbenídeos (lagarto sem pata), 47 lagartos, 52 serpentes, 4 quelônios e 3 crocodilianos e entre esses répteis, destaca-se o Jacaré-coroa (Paleoschus palpebrosus).
Das 510 de aves registradas na Caatinga, 1/3 delas são endêmicas e entre elas, se destaca a Ararinha-Azul, conhecida por ser uma ave símbolo da Caatinga.
Um dos mais surpreendentes grupos de animais da caatinga são os peixes, com 240 espécies, das quais a estimativa é de que 136 sejam endêmicas e do grupo dos anfíbios, ao todo são 49 espécies conhecidas, em que cerca de 15% delas são endêmicas, sendo que grande parte necessita manter a pele sempre úmida e dependem da água para reprodução e desenvolvimento, adquirindo assim uma estratégia de longos períodos de estivação (um tipo de dormência) no período seco.
Entre os mamíferos que habitam a caatinga, das 148 espécies registradas, 10 delas são endêmicas, mas a perda do habitat e a caça são fatores de perigo para essas espécies, sendo que grande parte delas estão incluídas na lista oficial de espécies ameaçadas de extinção, como por exemplo a Onça-Parda (Puma concolor) e a Jaguatirica (Leopardus pardalis).
Qual sua influência no combate às mudanças climáticas?
Estudos recentes vêm sendo realizados pelo Observatório Nacional da Caatinga, elucidando o papel fundamental que o bioma da Caatinga possui para o Balanço de CO2 regional e global.
Os resultados vêm mostrando que a Caatinga atua como excelente sequestradora de CO2, até mesmo em épocas de seca extrema, além de mostrar que o bioma apresenta uma elevada eficiência de uso do carbono, o que a torna a floresta mais eficiente no uso do carbono do que todos os demais tipos mundialmente estudados até agora.
De acordo com os resultados obtidos, as Áreas de Caatinga Densa armazenam, em média, cerca de 125 toneladas de Carbono por hectare. A maior parte deste carbono é armazenada no solo (72%), seguida por biomassa acima do solo (16%), biomassa abaixo do solo (7%), madeira morta (3%), serapilheira (1,5%) e biomassa herbácea (0,5%). Por sua vez áreas de Caatinga Aberta armazenam 86 toneladas de carbono, quase 30% menos Carbono do que a Caatinga Densa.
Se a Caatinga Densa for substituída por pastagens e agricultura, essa substituição causará perdas de mais de 50% dos estoques de carbono nesse ecossistema, afetando cerca de 65 toneladas de Carbono por hectare, haja vista que essas áreas representam uma oportunidade elevada de sequestro de carbono via processos de reabilitação ou através de desenvolvimento de sistemas de produção de base agroecológica.
Devido ao déficit hídrico do semiárido brasileiro, os solos tendem a perder menos carbono do que nas regiões mais úmidas e em consequência disso, o tempo de permanência média do carbono no solo é maior.
Com isso, os ecossistemas possuem um papel significativo na absorção de grandes quantidades de CO2 atmosféricos, absorvendo ou sequestrando CO2 da atmosfera através do seu processo fotossintético (transformação da energia solar em energia química) e ao mesmo tempo emitem CO2 para a atmosfera pelo processo de respiração das plantas e do solo.
É por isso que os solos de um bioma semiárido é um importante aliado para a mitigação das emissões de CO2 da atmosfera.
Ilhas de umidade
Além de surpreender com os seus solos férteis, a Caatinga impressiona com suas “ilhas de umidade”, os chamados brejos.
A existência dessas ilhas está associada à ocorrência de planaltos e chapadas entre 500 e 100 metros de altitude, onde há chuvas orográficas ou de relevo, que ocorre quando uma massa de ar carregada de umidade sobe ao encontrar uma elevação do relevo, como uma montanha.
Apresentam alta biodiversidade e endemismo de espécies, abrigando diversas espécies raras, únicas e ameaçadas, além de benefícios fundamentais para a população local, atuando como áreas de recarga hídrica, controle do clima e barreira contra o avanço da desertificação.
Produzindo quase todos os alimentos e frutas peculiares aos trópicos do mundo, essas áreas se localizam nas proximidades das serras, onde a abundância de chuva é maior.
Além das perturbações humanas, sendo alvo constante de desmatamento ilegal, caça, exploração de recursos florestais, os brejos sofrem ameaças decorrentes das mudanças climáticas, uma vez que as alterações nos regimes de chuva e nas temperaturas médias pode acarretar ao completo desaparecimento destes ambientes.
Os brejos possuem um papel fundamental na provisão de água para comunidades vizinhas, sendo um elemento crucial para a segurança hídrica de populações que vivem de maneira precária.
Conclusão
As tentativas de recuperação de áreas degradadas na caatinga com programas de reflorestamento e nucleação tem obtido êxito limitado em relação ao número de árvores plantadas e áreas recuperadas, devido ao escasso ou nulo benefício econômico proporcionado aos agricultores, revelando a necessidade de desenvolver um Programa de Crédito Social de Carbono na região semiárida brasileira, que possa gerar benefícios econômicos, ambientais e sociais, a curto e médio prazo, e assim, combater a desertificação e as mudanças climáticas.
É importante destacar que cerca de 27 milhões de pessoas vivem na área original da Caatinga, sendo que 80% de seus ecossistemas originais já foram alterados, devido ao desmatamento e queimadas e além disso, grande parte da população que reside nessas áreas, vivem de maneira precária e precisa dos recursos de sua biodiversidade para sobreviver.
Através de um Programa de Crédito Social de Carbono na região semiárida brasileira, é possível tornar viável o sequestro e armazenamento de carbono, o que podem trazer benefícios ambientais, econômicos, sociais e contribuição significativa ao combate às mudanças climáticas, contribuindo para melhores condições de fertilidade do solo e um aumento significativo da produtividade do solo para a obtenção de alimentos saudáveis, segurança e soberania alimentar.
Fontes:
Caatinga — Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima
Dia Nacional da Caatinga: um dos biomas mais importantes do país é encontrado no Nordeste