Atualmente, os esmaltes são basicamente formados por 85% de solventes e 15% de resinas e plastificantes.
O esmalte surgiu na sociedade há mais de cinco mil anos e vem sendo usado até os dias atuais como forma de embelezamento e proteção das unhas.
Segundo relatos, sua primeira utilização foi provavelmente na China. No entanto, desde a antiguidade, os egípcios usavam a henna para colorir as unhas, enquanto os japoneses e chineses utilizavam extratos de plantas medicinais, purê de rosas, pétalas de orquídeas, entre outras misturas.
Atualmente, os esmaltes são basicamente formados por 85% de solventes e 15% de resinas e plastificantes. Após a sua utilização, grande parte da população realiza seu descarte no “lixo comum”.
Contudo, as substâncias presentes na composição dos esmaltes podem trazer diversos prejuízos não só ao ambiente, mas também à saúde humana.
Alta toxicidade
Os componentes químicos existentes são de alta toxicidade, como por exemplo o tolueno, xileno, formaldeído, cromo, níquel e outros.
Estes componentes ainda não podem ser reciclados e podem representar riscos à saúde humana quando expostos em concentrações elevadas e por períodos prolongados.
O procedimento ideal para descarte correto desse material é esvaziar o vidro e despejar a parte líquida em um papel ou pano de forma que este não entre em contato com a água ou o solo.
Parece que por ser um produto visivelmente pequeno seu impacto é inexistente. Será?
O Brasil é o segundo maior país em vendas de esmaltes no mundo, ficando atrás somente dos Estados Unidos.
Dados de 2019 apontam que o mercado de esmaltes movimentou cerca de R$ 2.075 milhões de reais.
Nos 4 primeiros meses de 2021, a ABIHPEC registrou um crescimento de 8,7% no setor de maquiagem para as unhas. A produção de esmalte nesse período foi de cerca de 220,5 milhões de unidades.
Pós-consumo
Pensando nos pós-consumo, vamos analisar esse material a partir dos seus componentes principais. São eles: o vidro da embalagem, os plásticos da tampa e o esmalte residual contido no vidro. Verificamos que cada embalagem de vidro apresenta um peso médio de aproximadamente 30 g.
Quando esse material é descartado incorretamente, apenas o vidro acumula uma massa residual anual de 6.330 T.
O plástico, que compõe a tampa (com um peso médio de 10 g), acumularia uma massa residual anual de 2.110 T.
Adicionalmente, caso cada embalagem fosse descartada com 2 mL de esmalte, acumularia uma massa líquida residual anual de 441.000 L.
Verificamos que muitos materiais que poderiam ser reciclados/reutilizados vão encontrar diferentes rotas para disposição final, inclusive sendo enviados incorretamente para aterros sanitários.
Descarte mais sustentável
Assim como outros materiais residuais é possível dar um novo fim ao esmalte já vencido, ou que, de alguma forma, se tornaram impróprios para o uso.
Por mais que ainda não existam processos estabelecidos em larga escala para reciclagem, eles podem ser reutilizados para fins artísticos, tais como: confecção de quadros, personalização de capinhas de celular, personalização de fones de ouvidos, identificação de potes, renovação de bijuterias, customização de sandálias, dentre outros.
Quando pensamos globalmente e agimos localmente, temos condições de mitigar esses impactos.
Diferentemente de outros países, no Brasil ainda não há legislação que estabeleça uma coleta seletiva para resíduos como o do esmalte.
Poucas são as iniciativas privadas e não há contrapartida por parte do governo. Países como França, EUA e Inglaterra integram o esmalte de unhas à categoria de resíduos domésticos perigosos, e há coletas específicas para tais resíduos.
Recomendamos atenção ao tema por parte dos governos locais, empresas privadas, cooperativas de catadores e população em geral.
Reforçando a reflexão de que não existe o termo “jogar fora”. Na verdade, tira-se de um sistema e coloca-se em outro. Esse outro sistema depende de cada um de nós.
Por:
Flávio Silva de Souza e Sérgio Thode Filho – Professores do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro IFRJ-CDUC
Alice Vitória da Silva Mendonça, Lara Lobo da Ronda e Vitória da Rocha Torres Jarcem – Alunos do curso Técnico em Plástico do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro IFRJ-CDUC