O estudante do ensino médio percebeu que a espada-de-são-jorge poderia ser transformada em papel ao cultivar espécie em casa.
Um estudante do ensino médio, de 16 anos, conseguiu fabricar papel usando à partir de fibras da espada-de-são-jorge.
A ideia surgiu quando Nicolas Natale percebeu que a folhagem da planta seca tinha o mesmo aspecto das folhas produzidas pelos egípcios na Antiguidade, chamadas de papiro, usadas como superfície para escrita na época.
Produção simples
Enquanto a fabricação do papiro egípcio exigia um trabalho artesanal minucioso, o papel desenvolvido por Nicolas é feito de forma tão simples e eficiente que repercutiu nacionalmente e garantiu a ele a chance de apresentar o projeto na 75ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), realizada em junho deste ano, em Curitiba.
De acordo com Nicolas, a fabricação tem cinco etapas: Depois de coletar as folhas sadias de uma espada-de-são-jorge, ele as tritura em um liquidificador com duas medidas de água para cada uma medida de folhas.
A mistura é depositada em um molde de serigrafia – usado para impressão manual de telas – para ser moldada no formato de uma folha de ofício A6.
Papel sustentável
Após o processo de moldagem, coloca-se o material moldado para secar em uma superfície que absorve água, como um pano de prato, e prensa-se entre duas placas de papelão, a fim de deixar o papel liso o suficiente para que ele possa ser escrito.
Nicolas pensou na simplicidade e no baixo custo de produção para que qualquer pessoa pudesse praticar a sustentabilidade em casa e para gerar soluções mais sustentáveis de fabricação industrial, de acordo com ele.
“É uma produção sustentável em todos os aspectos, desde a produção que não gasta muito, até o cultivo e a manufatura que podem ser feitos até na cozinha de casa. Eu pretendo buscar patrocínios para saber se o papel, com todas as suas características, realmente pode ser feito em escala comercial, porque a ideia é fazer cadernos e livros mais sustentáveis”, almeja Nicolas.
Nicolas desenvolveu todo o trabalho no Centro Juvenil de Ciência e Cultura (CJCC) de Salvador, onde ele participa da oficina “Sementes da Bahia”, ministrada pela professora Laísa Brandão, à tarde, no turno oposto às aulas do 2° ano do ensino médio, no Colégio Central da Bahia, em Nazaré.
Laísa foi quem abraçou a ideia de Nicolas e o orientou para alcançar o bom resultado. Ela também o acompanhou na Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e o ajudou a escolher o nome do trabalho: ‘Papel de Sansevieria trifasciata: folha, água e nada mais!’
A professora explica que, se comparado com o papel convencional, feito a partir da madeira de eucalipto, a fabricação do papel de fibra da espada-de-são-jorge não apenas reduz a degradação do meio ambiente, mas também ajuda a recuperá-lo.
Benefícios da planta
A árvore de eucalipto, quando plantada, torna o solo infértil para outras plantas devido à sua natureza competitiva, o que requer a desmatação para expandir seu cultivo.
Em contrapartida, a espada-de-são-jorge é benéfica para as regiões onde é plantada, pois ela tem a capacidade de recuperar o solo degradado e purificar o ar do gás carbônico.
A dupla ainda não calculou os custos de fabricação, no entanto, a diferença de tempo de crescimento entre as duas espécies indica que a fabricação do papel a partir da espada-de-são-jorge pode ser mais demorada e, consequentemente, mais cara do que o papel produzido com eucalipto. Enquanto a árvore leva cinco anos para atingir a maturidade, a espada-de-são-jorge leva apenas dois.
“Isso nos mostra como é importante investir em espaços como o Centro Juvenil, para detectarmos essas pérolas e dar suporte para que elas se desenvolvam profissionalmente e como pessoas. Todos os meninos que estão aqui hoje, estão porque querem estar. Não tem nota, nem nada disso, mas tem a atenção que faz com que eles se interessem pela ciência”, destaca Laísa.
Foi a paixão pelo cultivo de plantas que levou Nicolas para o CJCC. Ele nasceu em Feira de Santana, mas foi criado em Salvador, no bairro do Rio Vermelho.
Sempre estudou em escola pública ou como bolsista em algumas escolas particulares da capital baiana e sonha em ser biólogo.
“Ainda estou avaliando para que área da biologia eu vou, mas, sem dúvidas, será para me dedicar à ciência e à pesquisa para fazer diferença na vida das pessoas”, almeja o estudante.
Fonte: Correio 24 Horas