Concreto produzido com resíduos cana de açúcar: Pesquisador britânico concede entrevista exclusiva ao Portal Sustentabilidade

cana-de-açucar

A equipe de redação do Portal Sustentabilidade conversou com exclusividade com Mr. Armor da University of East London sobre o Sugarcrete, o concreto produzido com resíduos de cana-de-açucar.

As emissões provenientes da construção civil têm sido uma grande preocupação a nível mundial.

No Reino Unido essa questão tem sido debatida, devido ao impacto significativo que o setor tem no meio ambiente. De acordo com dados e estatísticas recentes, estima-se que o setor da construção seja responsável por cerca de 40% das emissões de carbono no país.

Essas emissões geralmente derivam de diversas fontes, como por exemplo na produção de materiais de construção, o transporte de materiais e resíduos, bem como o consumo de energia durante a construção, entre outros.

No entanto, diversas estratégias sustentáveis e tecnologias inovadoras estão sendo adotadas para minimizar o impacto ambiental da construção civil.

Solução em potencial

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Foto: Reprodução/Pexels

A busca por métodos de construção mais eficientes em termos energéticos, a utilização de materiais eco-friendly e a implementação de práticas de construção sustentáveis são algumas das ações que estão sendo tomadas para diminuir as emissões do setor.

No Reino Unido, uma solução tem grande potencial em resolver não só a questão das emissões, como também contribuir com outro passivo ambiental, que são os resíduos de cana-de-açucar.

Em entrevista exclusiva, a equipe de redação do Portal Sustentabilidade, conversou com o Mr. Armor Gutierrez Rivas, Professor Sênior de Arquitetura pela University of East London, pesquisador que desenvolveu o Sugarcrete, o concreto sustentável produzido à partir de resíduos de cana-de-açucar, para conhecer mais sobre a promissora inovação.

O que é o Sugarcrete?

O concreto chamado de Sugarcrete – Foto: Sugarcrete/UEL

O projeto do concreto foi desenvolvido através de uma colaboração entre o programa UEL March Architecture e o Sustainability Research Institute (SRI) por Armor Gutierrez Rivas, professor sênior de arquitetura, Alan Chandler, co-diretor do SRI e Bamdad Ayati, pesquisador do SRI, com o apoio de John Kerr, vice-presidente de pesquisa e tecnologia da Tate & Lyle Sugars.

Mr. Armor explicou do que se trata o concreto sustentável, e como foi o desenvolvimento do projeto.

A iniciativa surgiu como parte do programa de mestrado da UEL, onde os alunos foram desafiados a pensar de diferentes formas para desenvolver um ambiente com mateirais não tradicionais, que possam ser usados na construção civil, materiais como por exemplo, pallets, bioresíduos, concretos, vidros e alumínios.  

Assim surgiu o Sugarcrete, um bioconcreto que possui como recurso principal o bagaço da cana.

No processo, o resíduo é ligado a outros diferentes minerais e aglutinantes de sílica, podendo dessa forma, substituir estruturas de concreto ou tijolos.     

Testes em campo

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Foto: Sugarcrete/UEL

Os pesquisadores realizaram vários testes no SRI, e o concreto demonstrou boas propriedades térmicas e da mesma forma, resistência ao fogo.

Os testes realizados no Instituto de Incêndios de Madrid, apontaram que o material atingiu a classificação A1, ou seja, é a classificação mais alta que o material pode obter nesse quesito.

De acordo com Mr. Armor, o concreto sustentável já está passando por testes em construções reais.

“Acreditamos que o material está pronto para ser comercializado e já estamos ansiosos para implementá-lo no mercado. Nós temos vários projetos ativos acontecendo neste momento em diferentes países que trabalham com a plantação da cana-de-açucar”.

Na Índia, as paredes de uma escola estão sendo construídas com o bioconcreto, assim como um projeto em Londres, onde foram construídas mobílias, usando Sugarcrete, ao invés do concreto tradicional.   

De acordo com os resultados, além de contribuir com a redução dos resíduos de cana, o Sugracrete tem potencial para reduzir as emissões de carbono na construção civil.

Concreto tradicional

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Foto: Reprodução/Pexels

Mr. Armor ressalta que o Sugarcrete não tem a pretensão de eliminar o concreto das construções.

“E claro, o concreto tradicional será sempre fundamental para determinadas estruturas e para edifícios com uma determinada altura. E não pensamos ser possível substituir totalmente a indústria desse material. Entretanto, devemos usar o concreto tradicional apenas quando for absolutamente necessário. Em seguida, podemos utilizar outras alternativas, como o concreto açucareiro, para outras aplicações.”

Quando questionado sobre as vantagens do concreto de cana quando comparado com o tradicional, Mr. Armor afirma que a pegada de carbono é a primeira vantagem.

A segunda vantagem é que, o bioconcreto possui excelente porosidade e entrada de ar, proporcionando propriedades térmicas altamente eficientes. Diferente do concreto convencional, que requer isolamento adicional para manter o calor em ambientes frios, o concreto açucareiro oferece um valor térmico superior.

“Paredes de aproximadamente 200 a 250 milímetros possibilitam alcançar uma condutividade térmica adequada para edifícios de vários andares, eliminando a necessidade de camadas extras de isolamento. Isso simplifica significativamente o processo de construção”, conclui o pesquisador.

Parcerias com setor sucroenergético

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Foto: Reprodução/Pexels

O Brasil é o maior produtor de cana-de-açucar do mundo, e de acordo com o IBGE em 2022 a produção foi de 724.428.135 Toneladas.

Nesse sentido, perguntamos ao Mr.Armor se existe expectativa ou alguma conversa para desenvolver parcerias com empresas do setor sucroenergético do país, visto que geramos em grande escala o principal resíduo componente do Sugarcrete.

Sobre isso, Mr. Armor respondeu positivamente, que não só existe esse interesse em produzir o concreto de cana aqui, como algumas conversas já estão em andamento.

“Estamos em negociações com várias empresas interessadas em introduzir localmente o novo material no Brasil. Estamos abertos a colaborações após a primeira implementação.”

Ele acredita que o Brasil tem potencial de liderar globalmente a sustentabilidade e afirma que pode aprender muito com as instituições do país, em relação a melhoria dos processos do Sugarcrete.

Expectativas para o concreto sustentável

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Foto: Sugarcrete/UEL

Em relação as expectativas sobre escalar a tecnologia, Mr. Armor vê um cenário promissor.

Segundo ele, o uso local do concreto oferece vantagens econômicas e ambientais para famílias e comunidades. Permitindo assim, construções sustentáveis e reduzindo a dependência de blocos de concreto importados e cimento.

“Considerando as políticas de descarbonização na indústria da construção nos países do Norte, os biomateriais, como o Sugarcrete, têm potencial para desempenhar um papel essencial na construção sustentável a nível global”.

Assim, em uma escala maior, essa abordagem pode se tornar uma fonte de renda nos países do Sul global, transformando resíduos em oportunidades econômicas através da produção de blocos de cana-de-açúcar para exportação aos países do Norte global.

“Somos uma organização em busca de expandir o conhecimento sobre nosso material e convidamos todos a visitar nosso site, onde disponibilizamos relatórios e informações detalhadas sobre o desenvolvimento do mesmo. Estamos abertos para colaborar com qualquer pessoa ou organização, seja pequena ou grande, interessada em desenvolver o Sugarcrete. Será uma satisfação compartilhar o conhecimento que adquirimos. Aguardamos ansiosamente projetos construídos com concreto de cana no Brasil em um futuro próximo”, finaliza Mr. Armor.

Entrevista exclusiva realizada pela equipe de redação do Portal Sustentabilidade, no dia 06 de dezembro de 2023, via Meet Google, com Mr. Armor Gutierrez Rivas, da University of East London, no Reino Unido.

Instagram: Sugarcrete / University of East London

LinkedIn: Armor Gutierrez Rivas / University of East London

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