O biólogo e professor Paulo Jubilut explica como a tecnologia está revolucionando o monitoramento e a conservação dos ecossistemas.
A importância da preservação dos ecossistemas e da diversidade de vida em nosso planeta é indiscutível. Desde a década de 1990, quando o desmatamento da Amazônia atingiu níveis alarmantes, conforme dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a preocupação com a conservação ambiental tem se intensificado. Em 1995, por exemplo, aproximadamente 29.059 quilômetros quadrados de floresta foram destruídos.
Recentemente, o Relatório Anual de Desmatamento no Brasil (RAD) indicou que, em 2021, o país perdeu 16.557 km² de vegetação nativa em todos os seus biomas, um aumento de 20% em relação ao ano anterior.
A expansão da agricultura, pecuária e grandes projetos de infraestrutura continuam sendo os principais impulsionadores da destruição ambiental.
Monitoramento ambiental
Nesse contexto, a inclusão de tecnologias inovadoras como a Inteligência Artificial (IA) em processos de preservação e monitoramento ambiental se tornou alvo de significativos investimentos.
Por meio de soluções inovadoras, a IA oferece suporte para combater desafios como o desmatamento, a caça ilegal, a pesca predatória e as mudanças climáticas.
De acordo com o biólogo Paulo Jubilut, professor do Aprova Total, a IA pode ser aplicada em diversas frentes para monitorar e preservar os biomas brasileiros. Uma das suas aplicações mais impactantes é na análise de imagens de satélite em tempo real, permitindo detectar atividades ilegais como desmatamento, caça ilegal e pesca predatória.
“Os algoritmos de inteligência artificial podem ser treinados para monitorar de forma contínua as imagens de satélite e alertar as autoridades praticamente em tempo real sobre atividades suspeitas”, explica Jubilut.
Além disso, a tecnologia pode ser empregada no monitoramento da fauna e da flora das áreas protegidas, contribuindo para a identificação de espécies ameaçadas e áreas que necessitam de restauração. Por meio da análise de grandes conjuntos de dados de imagens e sons, os algoritmos podem identificar padrões comportamentais e de habitat.
Preservação de espécies
Um exemplo notável é o caso das baleias-jubarte na Bahia, onde a IA é utilizada para evitar colisões entre baleias e embarcações, além de contribuir para descobertas únicas sobre a distribuição desses animais.
Na mesma linha, existe um projeto desenvolvido pelo Instituto Imazon, chamado PrevisIA, que monitora a abertura de estradas dentro da Amazônia Legal, para localizar possíveis focos de garimpo e extração ilegal de madeira.
A IA também desempenha um papel fundamental no desenvolvimento de soluções para mitigação e adaptação às mudanças climáticas. “A inteligência artificial pode analisar grandes conjuntos de dados e identificar áreas prioritárias para reflorestamento, fornecer recomendações na agricultura e otimizar a gestão de recursos hídricos“, destaca Jubilut.
A startup americana Pano AI exemplifica o potencial da inteligência artificial no monitoramento de desastres ambientais.
A empresa criou um sistema impulsionado por IA capaz de identificar ameaças, confirmar incêndios, determinar a localização exata e fornecer informações em tempo real para equipes de resgate, agilizando as operações de combate ao fogo.
Acesso a locais remotos
No que diz respeito à gestão de áreas protegidas, a IA pode auxiliar no planejamento e otimização, considerando dados sobre biodiversidade, clima e outros fatores.
“Com base nos dados coletados, os algoritmos podem criar modelos preditivos que estimam como os ecossistemas podem responder a diferentes cenários climáticos, auxiliando na tomada de decisões informadas”, enfatiza Jubilut.
Apesar dos benefícios, a implementação em larga escala de sistemas de monitoramento e vigilância ambiental com IA no Brasil enfrenta desafios como a falta de infraestrutura em regiões remotas e questões relacionadas à proteção de dados e privacidade.
No entanto, as oportunidades oferecidas por esses sistemas são vastas e têm o potencial de gerar impactos positivos na conservação dos biomas do Brasil.
Projetos ambientais que utilizam IA
Apesar de estar se popularizando, a amplitude de utilidades do uso da Inteligência Artificial ainda é pouco difundida. Segundo uma pesquisa da CX Trends da Zendesk, apenas 28% das empresas brasileiras utilizam a IA em suas operações, enquanto 50% planejam adotar a tecnologia nos próximos anos.
No entanto, no setor ambiental, já existem diversas iniciativas públicas e privadas que estão integrando a tecnologia em seus processos. O professor Paulo Jubilut montou uma lista de projetos para conhecer:
- PrevisIA (Instituto Imazon): Um sistema de monitoramento que utiliza IA para detectar e prever a abertura de estradas na Amazônia Legal, ajudando a combater o desmatamento ilegal.
- Pano AI: Uma startup que desenvolveu um sistema baseado em IA para identificar incêndios florestais em tempo real, auxiliando equipes de resgate e conservação ambiental.
- Wildbook: Utiliza IA para identificar animais individuais por meio de padrões únicos em suas características físicas, ajudando na conservação de espécies ameaçadas.
- Google Earth Engine: Plataforma que utiliza IA para analisar imagens de satélite e monitorar mudanças ambientais, como desmatamento, urbanização e mudanças climáticas.
- Smart Parks: Utiliza IA para monitorar e proteger parques naturais e reservas de vida selvagem, detectando atividades ilegais, como caça furtiva e desmatamento.
- eBird: Uma plataforma que coleta observações de aves de todo o mundo e utiliza IA para analisar os dados, identificar padrões de migração e ajudar na conservação das aves e de seus habitats.
- ConservationFIT: Utiliza IA para identificar e rastrear animais selvagens por meio de imagens capturadas por câmeras automáticas, ajudando na conservação de espécies ameaçadas.
- OceanMind: Usa IA para analisar dados de satélite e monitorar a pesca ilegal em áreas marinhas protegidas, contribuindo para a preservação dos oceanos e da vida marinha.
- Coral Vita: Utiliza IA para monitorar e restaurar recifes de coral danificados, identificando áreas prioritárias para intervenção e otimizando os esforços de restauração.
- Global Forest Watch: Utiliza IA para analisar imagens de satélite e monitorar o desmatamento em tempo real em todo o mundo, fornecendo informações para a tomada de decisões em políticas de conservação florestal.
Por: Paulo Jubilut – Biólogo e professor do Aprova Total
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