A indústria papeleira compra mais de 30% de toda a madeira industrial vendida no mundo.
Por: Redação Portal Sustentabilidade
A produção de papel tradicionalmente envolve a extração de celulose de árvores, um processo que tem significativos impactos ambientais.
A indústria papeleira é uma das maiores consumidoras de madeira industrial, representando de 33% a 40% de toda a madeira vendida mundialmente, conforme dados do Fundo Mundial para a Natureza (WWF).
Para produzir uma tonelada de papel, são necessárias cerca de 17 árvores maduras, o que contribui para o desmatamento e a degradação de ecossistemas florestais.
Impactos ambientais

Além do consumo intensivo de madeira, a produção de papel convencional é um processo altamente intensivo em água e energia.
Grandes quantidades de água são usadas para transformar a madeira em polpa de celulose, e o processo de branqueamento para obter papel branco requer produtos químicos que podem contaminar corpos d’água. Emissões de CO2 e outros gases de efeito estufa também são significativas, contribuindo para as mudanças climáticas.
Os resíduos resultantes da produção de papel, como lignina e outros subprodutos, também representam desafios ambientais. Muitas vezes, esses resíduos são descartados de maneira inadequada, poluindo o solo e os cursos d’água.
No entanto, uma startup ucraniana, a Releaf Paper, pretende revolucionar esse cenário ao usar folhas mortas em vez de árvores saudáveis para produzir papel.
O fundador da Releaf Paper, Valentyn Frechka, desenvolveu a ideia enquanto ainda estava na escola. Apaixonado por bioquímica, ele buscava novas maneiras de produzir celulose, o principal componente do papel.
Extração das fibras

Após experiências fracassadas com grama e palha, Frechka descobriu que era possível extrair fibra das folhas. Com um protótipo funcional em mãos, ele se mudou para Paris devido à guerra na Ucrânia e, junto com seu sócio Alexandre Sobolenko, fundou a Releaf Paper.
A startup utiliza uma combinação de processos químicos e mecânicos para produzir uma tonelada de celulose a partir de 2,3 toneladas de folhas mortas. Em comparação, seriam necessárias 17 árvores para produzir a mesma quantidade.
Cidades europeias fornecem à Releaf folhas mortas coletadas nas ruas, evitando que sejam queimadas, prática comum em muitos lugares.
“Trabalhamos apenas com as folhas que recebemos das cidades porque não podemos aproveitar as folhas da floresta. Na cidade, é um resíduo verde que deve ser recolhido”, explica Frechka. Ele acrescenta que a Releaf mantém o equilíbrio ecológico, usando folhas para produzir papel e devolvendo lignina como semi-fertilizante para jardins e árvores urbanos.
Menos emissões na produção

O processo da Releaf envolve remover compostos sólidos das folhas, secá-las e transformá-las em pellets, que podem ser armazenados durante todo o ano para garantir um ciclo de produção contínuo. Esses pellets são convertidos em uma fibra especial que forma a base do papel.
A polpa resultante é prensada e enrolada em folhas de papel. A startup estima que seu processo emite 78% menos CO2 do que a produção tradicional e utiliza 15 vezes menos água.
Além disso, o papel à base de folhas degrada-se no solo em 30 dias, comparado aos 270 dias ou mais do papel comum.
A empresa comercializa papéis de 70 a 300 g/m², adequados para uma variedade de usos, desde sacos e envelopes de e-commerce até embalagens de papelão.
Atualmente, a startup produz cerca de três milhões de sacolas de compras por mês, com clientes como L’Oréal, Samsung, LVMH, Logitech, Google e Schneider Electric.
A Releaf Paper abrirá sua primeira fábrica comercial nos arredores de Paris em julho, com capacidade para processar 5.000 toneladas de folhas por ano. Este local, parcialmente financiado pela União Europeia, receberá resíduos verdes da cidade de Paris.
Valentyn Frechka, sediado na Estação F em Paris, é um dos três finalistas do Prêmio Jovem Inventor 2024 do Instituto Europeu de Patentes (EPO), com os resultados a serem anunciados no dia 9 de julho.
Fonte: Euronews