O futuro da cadeia produtiva da macaúba parece promissor, com a expectativa de novas tecnologias atraírem mais empresas e consolidarem o mercado, semelhante ao desenvolvimento da soja no Brasil.
Por: Redação Portal Sustentabilidade
A Acelen Renováveis anunciou um investimento de US$ 3 bilhões para a produção de combustíveis limpos a partir da macaúba, uma palmeira nativa do cerrado brasileiro.
A empresa, ligada ao fundo soberano de investimentos de Abu Dhabi, Mubadala, aposta na capacidade da planta de produzir até oito vezes mais óleo do que a soja, conforme apontam pesquisadores.
De acordo com Sérgio Motoike, professor do departamento de fitotecnia da Universidade Federal de Viçosa (UFV), a macaúba (Acrocomia aculeata) pode gerar cerca de 4 toneladas de óleo por hectare sem nenhum melhoramento genético. Motoike explica que o objetivo dos estudos é domesticar a planta através da seleção de exemplares e do desenvolvimento de técnicas de cultivo.
Potencial de commodity
A macaúba cresce espontaneamente desde o extremo norte até o sudeste do Brasil e é capaz de se desenvolver em ambientes secos, áreas degradadas, sistemas agroflorestais e até em integração com a pecuária.
“Em termos de eficiência, a macaúba tem potencial para se tornar uma commodity de exportação no futuro”, afirma Motoike.
No entanto, ele ressalta que uma desvantagem é o tempo necessário para a planta atingir a idade produtiva, que é de seis anos.
A Acelen já possui cerca de 3 milhões de mudas de macaúba armazenadas em viveiros terceirizados, com o início do cultivo planejado para 2025 na Bahia e no norte de Minas Gerais.
A empresa pretende plantar a macaúba em 180 mil hectares de pastagens degradadas e produzir cerca de 20 mil barris diários de SAF (Combustível Sustentável de Aviação) e diesel renovável em sua biorrefinaria na Bahia.
A escolha da Bahia se deu pela quantidade de terras degradadas e pela proximidade da refinaria de Mataripe, localizada na região metropolitana de Salvador. Além disso, a macaúba foi incluída no Programa Nacional de Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc), anunciado pela Embrapa em fevereiro de 2024, o que facilita a concessão de crédito a pequenos agricultores.
Crédito de carbono
A Embrapa também está investigando a integração da macaúba com sistemas pecuários para o mercado de crédito de carbono, dada a alta capacidade da planta de reter carbono no solo e na biomassa.
Segundo Simone Favaro, pesquisadora da Embrapa, essa combinação pode resultar em emissão negativa de carbono, beneficiando o comércio de biocombustível e o acesso a financiamento.
O Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) incentiva a inclusão da agricultura familiar na cadeia de produção de combustíveis renováveis através do selo Biocombustível Social, que prioriza as vendas de biodiesel e oferece alíquotas reduzidas de PIS/Pasep e Cofins.
A S.Oleum, pioneira na produção de óleo de macaúba e emissão negativa de carbono, é um exemplo de empresa que se beneficia dessas iniciativas.
Francisco de Blanco, cofundador da empresa, vê vantagens e desafios em atuar em um mercado não consolidado. Ele acredita que, com o avanço das pesquisas científicas, outras empresas seguirão o mesmo caminho e que o Brasil poderá cultivar macaúba em 1 milhão de hectares até 2030.
O futuro da cadeia produtiva da macaúba parece promissor, com a expectativa de novas tecnologias atraírem mais empresas e consolidarem o mercado, semelhante ao desenvolvimento da soja no Brasil.
Fonte: Folha de São Paulo