A floresta como “fábrica de água” no combate às secas

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Reflorestamento com espécies nativas, financiado por projetos de créditos de carbono, aumenta em 30% a infiltração da chuva, reduz o escoamento superficial e melhora a resiliência hídrica durante o período de secas.

O Brasil de 2024 enfrenta um cenário alarmante de secas prolongadas e crises hídricas em diversas regiões. Nos últimos três anos, o país viveu um período de estiagem severa, com o Centro-Oeste e Sudeste entre as áreas mais afetadas.

A escassez de chuvas, combinada com o desmatamento e a degradação dos solos, compromete o abastecimento de água, impacta a agricultura e coloca em risco a segurança hídrica de milhões de brasileiros.

De acordo com um estudo da Unesp de Rio Claro, o Aquífero Guarani, o maior reservatório subterrâneo de água doce do mundo, está em desequilíbrio. Entre 2013 e 2021, as chuvas foram insuficientes para repor toda a água retirada do aquífero para consumo humano, e 80% do volume das nascentes da região central de São Paulo dependem desse reservatório.

Com a contribuição das chuvas cada vez menor, o reflorestamento com espécies nativas desponta como uma das soluções mais eficientes. Projetos de créditos de carbono, que financiam a restauração de ecossistemas, não apenas capturam carbono, mas também promovem a recarga hídrica, sendo essenciais para aumentar a resiliência hídrica em períodos de seca e atuando como verdadeiras “fábricas de água”.

O papel das florestas na recarga hídrica

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Foto: Reprodução/Pexels

O processo de recarga hídrica é fundamental para manter os níveis dos aquíferos subterrâneos, que abastecem rios e garantem a continuidade da produção agrícola e o fornecimento de água nas áreas urbanas. Quando reflorestamos áreas degradadas com espécies nativas, estamos promovendo a melhoria da infiltração da água no solo, reduzindo o escoamento superficial, prevenindo enchentes, e fortalecendo a retenção da água, que lentamente reabastece aquíferos e mantém a vazão dos rios durante a seca.

Florestas saudáveis tornam o solo menos compactado e mais poroso, facilitando a absorção da água da chuva. Dessa forma, a água infiltrada é armazenada e liberada gradualmente para rios e nascentes, garantindo um fluxo estável mesmo nos meses mais secos. Além disso, florestas atuam como filtros naturais, removendo sedimentos e poluentes, melhorando a qualidade da água.

Um estudo conduzido na Bacia Hidrográfica do Alto Tietê, em São Paulo, por pesquisadores da ESALQ/USP, analisou o impacto do reflorestamento com nativas em uma área antes marcada por erosão e assoreamento. Após o reflorestamento, a infiltração da água da chuva aumentou em 30%, e o escoamento superficial foi reduzido significativamente. Isso resultou na recuperação de nascentes que estavam secas e na estabilização da vazão dos rios durante o período de seca, beneficiando diretamente o abastecimento hídrico da Grande São Paulo.

Como o crédito de carbono pode impulsionar a resiliência hídrica

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Foto: Reprodução/Pexels

O reflorestamento com espécies nativas, contudo, é caro e requer investimentos consistentes ao longo de anos. É aqui que os projetos de créditos de carbono entram como catalisadores. Ao financiar a restauração florestal, esses projetos capturam CO2 da atmosfera e restauram ecossistemas críticos para a recarga hídrica.

Gigantes da tecnologia, como Microsoft, Google e Meta, têm investido de forma significativa nesse tipo de iniciativa. Em 2023, por exemplo, a Microsoft anunciou um compromisso de investir US$ 1 bilhão em projetos globais de sustentabilidade, incluindo reflorestamento e créditos de carbono. O Google já alocou US$ 200 milhões em ações climáticas que envolvem a recuperação de ecossistemas. A Meta, por sua vez, destinou US$ 150 milhões a projetos de restauração florestal com foco em captura de carbono e preservação de recursos hídricos. O próprio Governo do Estado de S. Paulo tem a meta ambiciosa de reflorestar mais de 1,5 milhão de hectares até 2050.

A Carbonext tem trabalhado diretamente com financiadores e operadores florestais para desenvolver e manter projetos que promovam a recarga hídrica em larga escala. A dinâmica é simples: o financiador investe nos projetos em troca de créditos de carbono, o operador florestal realiza o plantio e a manutenção das florestas, e os proprietários de terras disponibilizam as áreas para reflorestamento.

Um caminho para a sustentabilidade hídrica

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Foto: Reprodução/Pexels

Diante do cenário de secas, o Brasil precisa adotar uma abordagem integrada que valorize a restauração ambiental como ferramenta para garantir a sustentabilidade hídrica.

O reflorestamento com espécies nativas, financiado por créditos de carbono, é uma solução viável e eficaz, com benefícios diretos para a qualidade e a quantidade de água disponível.

A floresta não é apenas um ativo ambiental; ela é nossa maior aliada no combate à escassez de água. Com o apoio de empresas e governos, o Brasil tem a oportunidade de liderar a regeneração florestal em escala, assegurando o abastecimento de água e contribuindo para um futuro mais resiliente e sustentável. A natureza, quando restaurada, volta a ser a nossa “fábrica de água”, essencial para combater as secas e assegurar o futuro das próximas gerações.

Por: Gabriel Buzzo, Diretor de Prospecção da Carbonext.

** ** Este artigo é de autor independente e o texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal Sustentabilidade

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