Iniciativas acadêmicas transformam resíduos de açaí e tucumã em biocombustíveis e bioasfalto

região Norte

Instituições de ensino e pesquisa do Amapá, Pará e outras regiões do Brasil utilizam resíduos agroindustriais da Amazônia em processos de pirólise para gerar bioóleo, carvão ativado, combustíveis verdes e materiais para pavimentação, promovendo inovação sustentável com identidade regional.

Diferentes universidades da região Norte e de outras partes do Brasil estão conduzindo pesquisas complementares voltadas à valorização de resíduos agroindustriais, como o caroço de açaí e de tucumã, amplamente disponíveis na Amazônia. As iniciativas têm como objetivo transformar esses materiais em produtos sustentáveis capazes de substituir combustíveis fósseis e insumos industriais, fortalecendo a bioeconomia regional e promovendo soluções tecnológicas alinhadas ao meio ambiente.

A Universidade do Estado do Amapá (UEAP) e a Universidade Federal do Pará (UFPA) são protagonistas nessas pesquisas, utilizando a técnica da pirólise para produzir bioóleo, biocarvão, biocombustíveis e ligantes para pavimentação. Os estudos ainda contam com o envolvimento de outras instituições como a Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), a Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e a Universidade do Estado do Amazonas (UEA).

UEAP transforma caroço de açaí em bioóleo como substituto do petróleo

açaí
Bioóleo produzido no Amapá — Foto: Isadora Pereira/g1

No Amapá, a Universidade do Estado do Amapá (UEAP) realiza uma pesquisa de extensão coordenada pelo professor Menyklen Penafort, do colegiado de Engenharia Química, que busca desenvolver um bioóleo capaz de substituir derivados do petróleo. O Produto Líquido Orgânico (PLO), como é chamado, é produzido por meio da pirólise do caroço de açaí — processo em que a biomassa é aquecida a vácuo e sem oxigênio, gerando um vapor que é condensado e separado em bioóleo e líquido pirolenhoso.

O biocombustível apresenta características similares aos combustíveis fósseis e pode ser utilizado na produção de biogasolina, querosene verde, diesel verde e ligantes asfálticos. Já o líquido pirolenhoso tem aplicações na indústria farmacêutica. Além disso, o processo gera carvão ativado, que pode ser usado no tratamento de água, especialmente em áreas como o Arquipélago do Bailique, que sofrem com salinização.

A produção é realizada no Centro de Educação Profissional Graziela Reis de Souza, enquanto a caracterização do produto ocorre na UEAP, onde são analisados parâmetros como densidade, acidez e corrosividade. Os resultados iniciais são promissores e apontam para uma nova matriz energética baseada em resíduos locais e tecnologias acessíveis.

UFPA desenvolve biocombustíveis e bioasfalto com caroços de açaí e tucumã

açaí
Foto: UFPA

No Pará, a Universidade Federal do Pará (UFPA) lidera o projeto Sustenbio Energy, coordenado pelo professor Nélio Teixeira Machado, que utiliza a mesma técnica da pirólise, mas com foco ampliado: além do açaí, também são utilizados caroços de tucumã. O objetivo é produzir biocombustíveis, carvão vegetal e ligantes asfálticos a partir desses resíduos abundantes na região.

O bioóleo obtido pode ser transformado em combustíveis sustentáveis como biogasolina e diesel verde. Já o biocarvão tem aplicação no tratamento de água e na agricultura, como condicionador de solos. Um dos diferenciais da pesquisa é a produção de bioasfalto — um material ecológico que pode substituir o asfalto tradicional derivado do petróleo, contribuindo para a pavimentação de vias de forma mais sustentável.

A pesquisa reúne outras instituições da região e do país, como a Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), a Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (UNIFESSPA), a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e a Universidade do Estado do Amazonas (UEA). A proposta é fortalecer cadeias produtivas amazônicas e criar soluções energéticas que respeitem o meio ambiente e promovam o desenvolvimento regional.

Inovação sustentável com identidade amazônica

pesquisas
Foto: Reprodução/Pexels

Embora com focos distintos, as duas pesquisas demonstram o grande potencial de reaproveitamento dos resíduos da cadeia do açaí, um dos produtos mais simbólicos da Amazônia. Ao transformar caroços que antes eram descartados em combustíveis, carvão ativado, produtos químicos e materiais de construção, os pesquisadores revelam o poder da ciência aplicada à realidade local.

Essas iniciativas são exemplos claros de como o conhecimento científico pode impulsionar a bioeconomia, gerar empregos e promover uma transição energética sustentável na Amazônia.

Com investimentos e apoio institucional, o bio-óleo e seus derivados podem, em breve, fazer parte de uma matriz energética verde, regionalizada e alinhada aos desafios climáticos do século XXI.

Fontes: G1 UFPA

Facebook
WhatsApp
Twitter
LinkedIn
Pinterest

Veja também

Receba diretamente em seu e-mail nossa Newsletter

Faça sua busca
Siga-nos nas redes sociais

  Últimos Artigos