As duas faces da moeda: uma análise sobre o Decreto de importação de resíduos sólidos

importação

Decreto nº 12.438 divide opiniões entre indústria, catadores e ambientalistas. Avanço para a economia circular ou risco ambiental?

A economia circular voltou ao centro do debate com a publicação do Decreto nº 12.438 pelo governo federal, que regulamenta a importação de resíduos sólidos no Brasil.

Entendo que essa medida, que autoriza a entrada de 20 categorias de materiais recicláveis — incluindo metais estratégicos e plásticos especiais — representa um dilema fundamental: avanço para a economia circular ou risco ambiental?

Cara: o potencial para fomentar a indústria da reciclagem

reciclagem
Foto: Reprodução/Pexels

O decreto traz aspectos positivos que merecem consideração. Seu objetivo é garantir matérias-primas estratégicas para a indústria nacional, reduzindo a dependência da mineração virgem e seus impactos ambientais.

Essa regulamentação representa uma oportunidade de inserir o Brasil na economia circular global, desde que seja implementada com critérios claros, a fim de evitar distorções.

As exigências previstas — como certificações ambientais obrigatórias e a proibição da entrada de resíduos não listados — podem, de fato, atrair investimentos em tecnologias de reciclagem avançadas.

Contudo, como veremos a seguir, os riscos não podem ser subestimados.

Coroa: riscos que exigem atenção

importação
Foto: Reprodução/Pexels

Como profissional que atua diretamente com cooperativas de reciclagem, compreendo profundamente as preocupações do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR).

Eles alertam, com razão, para o risco de o Brasil se tornar um destino global de resíduos, colocando em risco o sustento de cerca de 800 mil trabalhadores que dependem da coleta seletiva.

É evidente a fragilidade de nossa infraestrutura de reciclagem. Com cerca de 3 mil lixões ainda ativos, questiono se estamos, de fato, preparados para receber mais resíduos sem comprometer o meio ambiente e os trabalhadores do setor.

O caminho do equilíbrio: uma proposta

importação
Foto: Reprodução/Pexels

Com base em dados concretos e experiência prática, acredito que precisamos buscar um ponto de equilíbrio. Proponho três eixos fundamentais:

– Mecanismos de proteção para a cadeia nacional de reciclagem

– Investimentos robustos em infraestrutura de fiscalização

– Programas de inclusão produtiva para catadores

O sucesso dessa política dependerá da nossa capacidade de conciliar o desenvolvimento industrial com a proteção ambiental e social.

O anúncio do Ministério do Meio Ambiente sobre a criação de um grupo de trabalho para avaliar os impactos do decreto é, a meu ver, um passo importante.

A regulamentação coloca o Brasil diante de um dilema estratégico. O desafio é utilizar o comércio internacional de forma inteligente — não como substituição à reciclagem doméstica, mas como complemento para materiais críticos, nos quais temos déficit comprovado.

Concluo destacando que o monitoramento e a transparência nos próximos meses serão cruciais para garantir que essa medida traga avanços reais para a economia circular sem comprometer nosso meio ambiente e os trabalhadores envolvidos na reciclagem.

Por: Marcelo Souza, químico e engenheiro de produção e mecânica. Possui MBA Internacional em Administração pela FGV, MBA pelo Instituto Universitário de Lisboa, pós-MBA em Tendências e Inovação e Formação de Conselheiro de Administração pela Inova Business School. É mestre em Administração pelo Instituto Universitário de Lisboa, com especializações em Transformação Digital pelo MIT e em Economia Circular pela Universidade de Berkeley Extension.

CEO da Indústria Fox – Economia Circular e suas subsidiárias, é também presidente do Conselho de Administração da Ilumi Materiais Elétricos, conselheiro e diretor de Meio Ambiente do CIESP – Regional Jundiaí, e membro do Departamento de Desenvolvimento Sustentável da Fiesp.

Professor da PUC-Campinas, é membro da Coalizão Empresarial por um Tratado dos Plásticos e presidente do INEC – Instituto Nacional de Economia Circular. Autor de três livros, acaba de lançar a antologia Reciclagem de A a Z, reunindo conhecimentos de especialistas em economia circular e reciclagem.

** ** Este artigo é de autor independente e o texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal Sustentabilidade

Facebook
WhatsApp
Twitter
LinkedIn
Pinterest

Veja também

Receba diretamente em seu e-mail nossa Newsletter

Faça sua busca
Siga-nos nas redes sociais

  Últimos Artigos